PAULO ROSSETTI
Coroas individuais cimentadas sobre implantes dentários podem soltar mais?
Na prótese sobre implantes, há duas opções de fixação: aparafusar ou cimentar. A nossa preferência tem sido pelo aparafusamento. Motivo? Podemos remover essas coroas nos casos de fratura, acidentes, ou limpeza interna.
Entretanto, o canal do parafuso deve se encontrar na região do cíngulo ou palatina, sem invadir a borda incisal. Implantes dentários muito angulados para vestibular (no passado, ao montes) recebiam uma camada de resina composta para fechar a entrada do canal. Na região posterior, o canal deveria ficar na região oclusal, embora muitas vezes mais para mesial ou distal, e região palatina
Se não podemos usar o parafuso para fixar a coroa total, que tal cimenta-la?
Sabemos muito da cimentação em coroas totais porque a biomecânica desta modalidade foi estudada a fundo nos anos 1960, ressaltando itens como: a altura mínima do preparo dentário, sua conicidade, a zona Z, as canaletas de retenção e outras estratégias antirrotacionais, bem como o tipo de cimento utilizado.
Mas um detalhe parece escapar: a ausência do ligamento periodontal. Sua capacidade viscoelástica é única. Já a interface entre osso e implante é muito diferente.
O ligamento periodontal pode "ceder" frente um contato fora de posição? Pode. O quanto? Difícil dizer. Só a interface entre osso e implante é não pode. Assim, no dia a dia, criamos mecanismos compensatórios que nunca tiveram sua efetividade comprovada em grandes estudos clínicos.
Que interessante: por aproximação, comparamos uma prótese parcial fixa sobre implantes às pontes que ligam cidades, continentes, ilhas. Será que estamos certos?
Do ponto de vista anatômico, o elemento da ponte, que mais se aproxima da nossa situação protética em boca, é o seu vão (conhecido em Odontologia como cantilever). É claro, nada vai cimentado sobre a ponte na vida real, mas ela sustenta as toneladas (variáveis) de todos os veículos que passam dia e noite sobre a mesma.
Outro aspecto comum é que a maioria dos pilares usados em próteses sobre implantes cimentadas pode vir pronta da fábrica. Curiosidade: qual é a sua rugosidade superficial?
Se usarmos uma luva plástica (cilindro) para enceramento e sobrefundição, o quanto esse capacidade de retenção será melhor, pior, ou igual ao pilar da fábrica, no momento da cimentação?
Outro ponto: qual seria o melhor agente de limpeza para deixar essa superfície mais favorável ao cimento odontológico?
Diante dos fatos acima, o profissional que atua nesta área precisa estudar as possibilidades com muito cuidado porque a quantidade de fatores envolvidos ainda envolve a esplintagem e o modo de fabricação da infraestrutura (fundição ou CAD/CAM).
Por exemplo, um estudo fotoelástico mostra que pilares pré-fabricados cimentáveis nas áreas de segundo pré-molar e molar, quando esplintados, compartilham melhor a distribuição da carga oclusal do que na modalidade coroas individuais.
Por outro lado, quando coroas individuais cimentadas e aparafusadas são comparadas (pré-molar e molar), mas utilizando-se um pilar (UCLA Tilite) e coroas (Ni-Cr-Ti), os estresses se encontram mais ao redor dos implantes das coroas aparafusadas e não das coroas cimentadas.