
Se você nunca teve uma pulpite irreversível, agradeça aos céus.
Quando sintomática, é aquela situação onde a polpa dentária não responde, ou seja, o grau de inflamação é considerável e incomodativo em níveis estratosféricos. Quando assintomática, a dor é menos intensa.
Na primeira condição, você deita, e a dor aumenta. Na verdade, parece que você tem um "coração" pulsando dentro do seu dente. É como estar preso entre quatro paredes, sem a chave da porta, e precisando ir ao banheiro.
Então você estressa. Na polpa, esse estresse é o edema. E dói, claro, pelo grau de inflamação.
O prognóstico pulpar não é bom, e assim o tratamento do canal radicular é certo, tanto na condição sintomática quanto na condição assintomática.
Mas imagine o paciente que está na sua clínica e você precisa fazer a anestesia, por exemplo, pelo bloqueio do nervo alveolar inferior.
Para calcular a quantidade de anestésico e facilitar a sua vida, bastaria clicar no card desse link.
Mas diante da sua mesa, há duas opções. Qual escolher: mepivacaína ou articaína? São sais de composições e tempos de ação diferentes.
Será que existe alguma diferença na resposta clínica à essa dor?
Itens analisados
Partindo-se do cenário na revisão mais recente , avaliando situações em estudos randomizados controlados, três itens foram analisados:
as taxas de sucesso com esses anestésicos e vasoconstritores
a intensidade da dor após as injeções
e a redução na severidade da dor
Mepivacaína e articaína
Os anestésicos e suas composições:
mepivacaína 2% (1:100.000 epinefrina)
articaína 4% (1:100.000 epinefrina)
mepivacaína 2% (1:100.000 adrenalina)
articaína 4% (1:100.000 adrenalina)
A escala de análise visual (EAV)
Um dos mecanismos mais simples já criados: uma linha contínua, por exemplo, do 0 ao 10, onde o seu paciente marca o nível da dor que ele sente. É uma medida subjetiva, ainda mais numa situação dessas. Entretanto, sua praticidade é fantástica, já que podemos construir um gráfico minuto a minuto ou hora por hora com as variações nos níveis de dor.
O que é melhor usar numa pulpite irreversível?
taxa de sucesso = sem diferenças
incidência de dor severa = sem diferenças
redução na intensidade da dor = a articaína 4% mostrou uma leve vantagem nesse ponto (dados de 283 pacientes, três estudos)
Explicando as reduções na intensidade da dor
Mas o que é essa "leve vantagem" da articaína, do ponto de vista numérico, quando falamos em escala de análise visual (EAV)?
Agora, vamos explorar esses dados de redução na intensidade da dor, colocando os valores médios:
mepivacaína (2,46 pontos)
articaína (1,9 pontos)
diferença na dor: 0,56 pontos EAV
escala de dor (0 = sem dor, 1 = dor leve, 2 = dor moderada, e 3 = dor severa)
analgesia na pulpectomia após articaína (14 em 22 pacientes, níveis de dor entre 0 e 1)
analgesia na pulpectomia após mepivacaína (16 em 22 pacientes, níveis de dor entre 0 e 1)
mepivacaína (4,74 pontos)
articaína (4,11 pontos)
diferença na dor: 0,63 pontos EAV
escala de dor: (0 = sem dor, < 54mm = dor leve, <114mm = dor moderada, < 170mm = dor intensa)
analgesia no acesso endodôntico após articaína ( perto dos 75mm)
analgesia no acesso endodôntico após mepivacaína (perto dos 90mm)
mepivacaína (4,41 pontos)
articaína (3,95 pontos)
diferença na dor: 0,46 pontos EAV
escala de dor: (0 = sem dor, 1-3 = dor leve, 4-6 = dor moderada, 7-10mm = dor severa)
Percebemos que a articaína 4% e o seu vasoconstritor correspondente conseguem reduzir mais a intensidade da dor. A diferença geral é de 0,56 pontos EAV, e significativa do ponto de vista estatístico (p < 0,001).
Ou seja, nesse nível de probabilidade, a chance dessa análise estar errada, baseada em três estudos apenas, é de 1 (uma) em mil.
Por outro lado, interpretar esse valor (0,56 pontos na EAV) não é uma tarefa fácil. Pela análise das diferentes escalas aplicadas, vamos de uma "dor leve" até uma "dor moderada".
Entretanto, qual seria a diferença clínica minimamente significativa que tanto buscamos na escolha do anestésico em casos de pulpite irreversível? Será que ela existe? Quem venham os próximos RCTs.
Resumo do post: do ponto de vista de eficácia clínica, tanto a mepivacaína quanto a articaína têm bom comportamento clínico.
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