O tubo digestivo começa pela cavidade oral, motivo pelo qual é fundamental irmos ao dentista para controle da quantidade de bactérias. Claro, é impossível ficarmos 100% livres, mesmo porque existe um equilíbrio entre "bactérias boas" e "bactérias más".
A maneira mais conhecida é a escovação dentária diária, com uso do fio dental e dos raspadores de língua.
Porém, quando esse equilíbrio é rompido, chamamos de disbiose. Para nossa sorte, o conhecimento sobre as espécies bacterianas que vivem na cavidade bucal tem aumentado significativamente para o surgimento de novos medicamentos e técnicas nesse combate.
Ainda, se reunirmos todas as mucosas (língua, bucal, vaginal, intestinal) chegaremos ao microbioma humano.
Com os avanços na medicina periodontal, interações no eixo "intestino- cérebro", no controle do estado inflamatório, foram propostas e investigadas. Por exemplo, o papel do P. gingivalis, uma bactéria conhecida da doença periodontal, na doença de Alzheimer.
Entretanto, foi através de uma epidemia (COVID-19, SARS-COV-19, SARS-COV-2) que confirmamos as relações fundamentais das bactérias do intestino com outros sistemas do nosso organismo.
Tudo girava em torno desse vírus e uma proteína da sua cápsula, conhecida como SPIKE, capaz de afetar os pulmões e provavelmente as células da medula óssea. Essa proteína SPIKE se ligava à ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2) dos pulmões e o vírus começava o seu ciclo de replicação, seguido pela tempestade de citocinas: tosse, dificuldade para respirar, febre, e outros sintomas.
Em meio à tempestade, diversas vacinas foram desenvolvidas, havendo até propostas nasais recentes.
O vírus da COVID-19 nas fezes humanas
Mas um fato relatado desde 2020, no olho do furação dessa pandemia, era preocupante: o vírus era visto nas fezes humanas de pacientes com infecção ativa, e poderia permanecer mesmo depois dos testes serem negativados.
Motivo: a proteína ACE2, além da mucosa respiratória, também se encontra na mucosa intestinal. Quando o vírus usa sua proteína SPIKE ligando à ACE2, o transporte de triptofano fica reduzido. O efeito é um aumento na produção de peptídeos antimicrobianos, facilitando o crescimento de microrganismos, a disbiose, e a tempestade de citocinas.
A interação acima está no eixo "intestino pulmão".
Nessa disbiose, o passo seguinte é uma alteração no "jogo de poder" entre as bactérias intestinais: entram em cena os patógenos oportunistas (Crocobacilos, Enterococos, Parabacteroides), ocupando o lugar de espécies como Actinobacterias e Bifidobacterias).
Além disso, bactérias como as bifidum produzem butirato. Esse elemento é um poderoso vigilante do mecanismo antiviral no sistema imune da mucosa gastrointestional.
Então, além dos sintomas respiratórios, esse jogo entre bactérias intestinais provoca constipação, perda de apetite e diarreia.
Sim, há outros sintomas, como a fadiga corporal e a queda de cabelos.
As dietas e as implicações
Frank Zappa, famoso guitarrista, escreveu em uma de suas canções: "Você sabe quem você é...você é o que você come."
Ainda, no auge da epidemia de COVID-19, presenciamos como o sobrepeso e o diabetes tipo 2, ligados à alimentação descontrolada na maioria dos casos, mostraram-se fatores de risco significativos.
Entretanto, tudo está ligado à melhora da nossa imunidade, e também porque podemos alterar a nossa dieta, evitando a disbiose.
Dessa forma, os achados da revisão mais recente recomendam, especialmente em pacientes com síndrome aguda pós-COVID-19:
evitar a dieta ocidental: alto conteúdo em comida processada, gordura saturada, e carboidratos refinados
adotar a dieta do Mediterrâneo: rica em fibras, antioxidantes, vitaminas e minerais
possibilidade de uma dieta cetogênica: quantidade reduzida de carboidratos e gorduras
Ainda, probióticos e pré bióticos são ferramentas interessantes (estudos iniciais com resultados promissores no alívio dos sintomas pós-COVID-19, sendo utilizadas sob orientação médica.
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