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  • Foto do escritor PAULO ROSSETTI

Trapalhadas oclusais com articuladores semiajustáveis

Atualizado: 10 de fev.


Articulador semiajustável e arco facial. Foto: arquivo pessoal Paulo H. O. Rossetti
Articulador semiajustável e arco facial. Foto: arquivo pessoal Paulo H. O. Rossetti

Meses atrás, ao adentrar a pista Washington Luís, em direção à Campinas - SP, fui surpreendido por uma bela casca de pneu e...não deu outra. Acostamento! E vamos lá com a velha chave de boca, triângulo sinalizador, peso do próprio corpo para soltar os parafusos da roda dianteira do lado esquerdo. Depois de uns belos 15 minutos, a "máquina" estava rodando livre, leve e solta. E o piloto aqui suando feito uma mula de carga: um olho no carro, outro nos caminhões (a moçada mais gente boa que faz esse Brasil funcionar!)


Claro que eu sei trocar um pneu (sou do tempo que os carros não tinham direção hidráulica). Ou você tinha braço (e juízo) ou nunca seria um motorista habilitado. Mas a indústria automobilística deu um jeito nisso. Hoje, com dois dedos você leva o volante do seu carro até Marte!


Este episódio me fez lembrar: mesmo como toda a tecnologia disponível, para quem dirige nas autoestradas, saber como trocar um pneu é fundamental.


O ser humano é uma máquina que opera máquinas, das mais simples às mais complexas.


Fiz todo esse contorcionismo não para gastar o seu tempo, mas porque há uma preocupação na prática odontológica atual: daqui pra frente, tudo será apertar um botão. Mesmo?


Na graduação, havia uma "máquina" que programávamos (melhor, que detestávamos). O articulador semiajustável. Não entendo como se pode detestar algo sem conhecer. A culpa estaria nas conversas de corredor?


Muitos "herdavam" seus articuladores: do amigo(a) dentista da família ou de alguém desesperado para vender esse item, nem sempre com todos os itens do pacote. Assim, possesso da vida na primeira chance para montar seus modelos de gesso, o refrão que se ouvia na bancada do laboratório era uma paródia de uma das músicas da banda original Raimundos, mais ou menos assim, na primeira linha da música "Eu quero ver o oco", adaptada para o nosso Odontês brazuca "Meu ódio por articuladores começou, quando eu perdi minhas bolachas e o pino incisal..."


E não se enganem: articuladores semi-ajustáveis são iguais aos veículos automotores (SEO do Google que me perdoe, não vou escrever "carro"...kkkk): existe uma lista de peças que precisa de manutenção.


Querem moleza? Já foi mais difícil usar esse trambolho: havia arruelas para controlar a distância intercondilar, o pino incisal era de metal e nem sempre "biocompatível" com o articulador do vizinho, as guias condilares tinham ajustes variados (mentira, tudo em 30 graus) e com frequência não se assentavam bem nas esferas condilares, e a "belezura" do arco facial tinha uma porcas metálicas para apertarmos, com o garfo de mordida voltado sempre para o lado errado no final do aperto.


Agora, o momento de glória (ou apocalipse) era quando apresentávamos nos modelos fixados no articulador, já quase escondidos atrás da porta. A frase 99,99% mais ouvida nesse momento: "filho, não consigo entender onde estão os dentes e onde está o gesso..." Tempos depois, iríamos compreender que não era para fazer "reboco", e que bolacha cheia de gesso não "alimenta" a esperança oclusal de ninguém.


Atualmente, a maioria dos fabricantes investe em articuladores semiajustáveis com medidas fixas (guia condilar e ângulo de Bennett), e arcos faciais de montagem mais rápida. Acabou a brincadeira.


Bem, se você realmente quer entender a oclusão do seu paciente, deve dominar o seu articulador semiajustável. Dentro da cavidade bucal, ninguém tem olho biônico para compreender a tridimensionalidade dos movimentos bordejantes e as relações entre os pontos de contato (o papel articular é bom, mas use-o com sabedoria).


Abaixo, um vídeo importante para controlar a quantidade de gesso que vai na bolacha do ramo superior do seu articulador. É só clicar e assistir. Muito obrigado! Um forte abraço!



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