Zircônia sinterizada no modo convencional ou rápido: tem diferença no desgaste?
- Paulo Rossetti
- 9 de jun.
- 2 min de leitura

A história da prótese dentária é vasta. Você pode rastreá-la nas civilizações antigas. Em paralelo, a busca por novos materiais sempre foi constante, especialmente porque o dente é uma estrutura complexa: uma parte está responsável pela resistência, e a outra pelos aspectos estéticos. Criar materiais artificiais com essas proezas em equilíbrio não é uma tarefa fácil.
Por exemplo, para simular essas propriedades, porcelanas têm sido desenvolvidas: feldspáticas, fluorapatitas, e mais tarde os minerais óxidos de alumina, espinélio, dissilicato de lítio e os poli cristais de zircônias tetragonais (TZP), esta última onde praticamente não há uma matriz vítrea, ou seja, os cristais estão firmemente compactados. Ponto para a Odontologia! Ganhamos em resistência.
Ainda, essas formulações contêm óxido de ítrio (Y2O3) colaborando para a estabilização física desse material em temperatura ambiente, gerando também o efeito de tenacificação frente à transformação (onde possíveis trincas no material são "cicatrizadas"). Mais um ponto nesse placar!
Afora os detalhes em ciência dos materiais, a zircônia precisa ser sinterizada. Sim, primeiro, os discos ou bolachas são fresados num estágio anterior considerando-se um volume maior. Depois, vão ao forno, onde as partículas se aproximam em função da temperatura e daí ocorre um "desconto" nesse volume para que a peça finalmente ganhe suas dimensões finais. Esse é um processo sensível e demorado. É o dilema número 1 e rotineiro nos laboratórios de prótese dentária.
Junta-se ao fato acima à descoberta de que podemos mudar a fórmula do 3Y-TZP para 5Y-TZP para ganharmos estética. O dilema número 2 é tão importante quanto o número 1, especialmente quando verificamos as bulas: muitas zircônias 5Y são quase metade da resistência flexural de zircônias 3Y. É o preço da estética!
Mas a curiosidade move a raça humana. Imagine quanta gente por aí (pesquisadores) está tentando equilibrar os dilemas 1 e 2 acima.
Então: vale "dar uma rapidinha" no forno com a zircônia?
A resposta por enquanto é...não, segundo o trabalho mais recente.
A primeira observação: o desgaste nas zircônias 3Y-TZP e 5Y-TZP é considerado pequeno, tanto nos ciclos convencionais como rápidos, embora o salto seja maior nas zircônias 5Y (10 para 15 micrometros, em média).
Considere que o melhor papel de articulação que você usa tem, em média, 12 micrometros de espessura.
A segunda observação: acelerar o clico de queima da 3Y-TZP aumenta o desgaste no esmalte de 0,01mm para 0,5mm. Isso mesmo! Cinquenta vezes! Na 5Y-TZP, passamos dos 0,01mm para 0,6mm. Sessenta vezes mais!
Considere que o processo de desgaste simulado nesse estudo, que se mostrou crítico quando a zircônia é obtida pelo ciclo rápido de sinterização, pode se agravar ainda mais quando outros fatores como alimentação e dieta são incluídos na superfície do esmalte. Se os dados acima forem confirmados em estudos clínicos, nossos pacientes precisarão retornar mais vezes aos consultórios para controle, especialmente das alterações nos pontos de contato e quem sabe, na dimensão vertical...
Laboratórios de prótese dentária, vamos ficar de olho: apesar das amostras serem discos com geometria simples, os resultados preliminares são importantes.
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