Fraturas na zircônia monolítica: surge o fator de segurança
- Paulo Rossetti

- 4 de set.
- 4 min de leitura

Todo cuidado é pouco quando lidamos com porcelanas na Odontologia.
A zircônia monolítica é um óxido cerâmico que não tem sua matriz vítrea. São nanopartículas compactadas intimamente sobre partículas, conferindo-lhe alta resistência. Não há uma liga metálica, não há a chance de reduzir a peça, de fazer um reparo por soldagem. Fraturou, começa tudo de novo.
Certo, mas existe o mecanismo de tenacificação que pode salvar a zircônia monolítica de uma falha catastrófica.
Sim. O ponto é que ninguém nessa profissão sabe se a zircônia deveria ser apenas (puramente) monolítica ou receber uma camada de porcelana feldspática, em quais regiões e com quais espessuras. Aqui, a literatura é vasta (casos clínicos com diversas proposições) e sem conclusões.
A zircônia monolítica como prótese total na maxila e na mandíbula
Ela tem sido usada como material de uma prótese total sobre implantes. A infraestrutura é feita para ser cimentada sobre pilares de titânio e depois fica aparafusada aos componentes.
Entretanto, pacientes que usam próteses totais apenas na maxila ou na mandíbula geram uma distância intermaxilar com a arcada antagonista, que varia conforme o grau de reabsorção óssea e a qualidade/quantidade das próteses já utilizadas.
Essa distância permite ou restringe as dimensões da futura reconstrução protética
O formato da infraestrutura: barra retangular?
A partir do momento que uma prótese total é construída sobre implantes dentários, normalmente, a região palatina é removida (um desejo antigo de pacientes e profissionais).
Agora, do ponto de vista estrutural, a prótese total assume a configuração de uma prótese parcial fixa extensa, e possivelmente fica sujeita às fórmulas da engenharia para a deformação /deflexão de uma barra de secção retangular. Guarde essa informação.
Bem, nem sempre o formato desse corte transversal é puramente retangular e esse talvez seja o problema: interpretar geometrias complexas onde a anatomia dentária (incisivos, caninos, pré-molares e molares) entra em jogo para garantir que a espessura da restauração fique uniforme e bem distribuída ao longo das arcadas.
Regiões de fragilidade na zircônia monolítica
Retorno ao ponto da engenharia estrutural: se a construção de uma ponte é pura matemática e física, seria diferente na prótese fixa sobre implantes?
Afora as diferenças entre os ambientes e materiais (osso, titânio e cerâmica por um lado, aço inoxidável por outro), o ponto de congruência entre as áreas é um elemento conhecido como cantiléver: quanto maior sua extensão, maior o risco de falha.
Por isso, quando usamos ligas metálicas, o cantiléver geralmente fica restrito entre a largura de um dente pré-molar ou molar (perto dos 10 mm).
E o implante mais próximo do cantiléver? A mecânica mostra que ele sofre mais esforço sob carregamento. Então, é bom que a área do conector seja reforçada. Isso tem sido feito por muito tempo com as ligas metálicas em prótese para dentes naturais e até sobre implantes.
Para terminar, o canal de acesso ao parafuso. Sim, há diversas geometrias propostas na literatura, principalmente porque os componentes protéticos pré-fabricados dão pouco espaço para novas interpretações que melhorem sua resistência.
Nesse sentido, laboratórios que usam sistemas CAD/CAM como solução marcam um gol de placa.
A relação entre o cantiléver e a área de secção transversal do conector
Atenção: você já leu aqui os dados da revisão mais recente sobre zircônia monolítica (com e sem recobrimento estético). Mas, tudo na ciência é dinâmico, principalmente quando surgem números novos relacionados especialmente aos dois elementos acima.
Ao acompanharem mais de 150 próteses monolíticas, pesquisadores apontaram uma relação importante entre o comprimento do cantiléver e essa área dos conectores, gerando o valor abaixo:
cantiléver / área de secção do conector < 0,51
A relação entre o cantiléver e a altura do canal de acesso
Ainda, nesse trabalho clínico retrospectivo, outra relação importante:
cantiléver / altura do canal de acesso do parafuso < 1,48
O que isto significa para profissionais e laboratórios de prótese?
próteses em zircônia monolítica não são feitas diretamente sem um projeto (de resina acrílica) que é testado primeiro na cavidade bucal. É justamente nesse momento que podemos verificar se as medidas desses elementos (cantiléver, canal de acesso ao parafuso, área do conector) tecnicamente estariam dentro do fator de segurança.
no laboratório, quando o elemento CAD fizer o desenho da peça, deveria ser usada uma tabela de referência com o fator de segurança.
Como podemos encontrar o fator de segurança?
Fator 1: relação entre cantiléver e área de secção (implante distal)
verifique a altura do espaço intermaxilar
verifique a largura na região do conector
faça largura x altura = área pretendida
calcule o comprimento do cantiléver
use a fórmula: cantiléver / área pretendida
veja se o valor final está abaixo dos 0,51
Fator 2: relação entre cantiléver e a altura do canal de acesso (implante distal)
verifique a altura do espaço intermaxilar
verifique a largura na região do conector
faça largura x altura = área pretendida
calcule a altura do canal de acesso do parafuso (implante distal)
use a fórmula: cantiléver / altura do canal
veja se o valor final está abaixo dos 1,48
Colocando os dados acima na sua prática
Aviso: esses valores ainda precisam de confirmação em mais estudos clínicos.
Por enquanto, sua utilização garantiu perto de 96% de sobrevivência nas próteses em zircônia monolítica num total de 302 unidades em cantiléver, com tempos de acompanhamento entre 1 e 4 anos (média de 2 anos).



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