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Zircônia monolítica ou com revestimento em próteses totais sobre implantes dentários?

  • Foto do escritor:  Paulo Rossetti
    Paulo Rossetti
  • 16 de ago.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de ago.

Zircônia monolítica em próteses totais sobre implantes: um bolo com ou sem cobertura?
Zircônia monolítica em próteses totais sobre implantes: um bolo com ou sem cobertura?


Como era a vida sem os implantes dentários? Pergunte aos milhares de pacientes que usavam próteses totais e surpreenda-se com os malabarismos que os mesmos faziam para se alimentar e falar com decência. Abaixo, dois exemplos para bons observadores:

 

Primeiro, sem os dentes fixos na boca, o tratamento consistia em buscar ao máximo cada milímetro quadrado para garantir retenção e estabilidade. A prova maior disso é o processo laborioso na obtenção de um molde o mais fiel possível.

 

Segundo, como a digestão começa pela boca, imagine engolir sem mastigar e ainda ter uma quantidade menor de saliva à sua disposição? A adjetivação mais singela aqui seria a palavra “incomodativa”.

 

Bem, passamos das próteses totais convencionais para as próteses sobre implantes trazendo o que havia de melhor no mundo da prótese fixa: as ligas metálicas e os materiais estéticos de revestimento. No contexto, isto significou começar com as ligas de ouro, transitar por mais opções em paládio prata, e terminarmos com as ligas de cobalto crômio. Entretanto, o revestimento de escolha sempre foi uma mescla de dentes artificiais e resina de metacrilato para a base dessas restaurações.

 

Quando a nossa profissão cogitou o uso desses óxidos cerâmicos, no começo dos anos 2000, a zircônia (Y-TZP) já demonstrava potencial dada a sua retrospectiva em coroas unitárias e pilares protéticos, sendo também mais opaca e mais forte do que a alumina e o espinélio.

 

Mas continuávamos com aquele detalhe mecânico: em testes laboratoriais, ao contrário dos metais, cerâmicas fraturam diretamente sem passar pela fase de deformação. Ainda, não existe possibilidade de reparo, conserto intraoral, ou aplicação de solda nessas estruturas extensas: é voltarmos à estaca zero.

 

Toda área de fratura começa com uma trinca. A questão é saber quando essa trinca se forma porque o mecanismo de tenacificação não é eterno: aquele fenômeno popular na engenharia mecânica chamado de cicatrização, onde o tamanho (graças ao óxido de ítrio) dos cristais aumenta para fechar o estrago causado.

 

Assim, não seria melhor entender como preveni-las? Para isso, precisamos caminhar além dos estudos laboratoriais de partida (que são fundamentais), e adentrarmos nos estudos clínicos a serem feitos em processo contínuo. Motivo? Quando a parte clínica complementa a parte laboratorial, a força do nosso entendimento fica melhor e as próximas atualizações se tornam um desafio mais tangível.

 

E como nós sabemos que a velocidade no laboratório é superior à da clínica...



Mais de 3 mil próteses totais sobre implantes analisadas em conjunto


Um ponto interessante nesse trabalho é definir no seu começo o que é uma zircônia monolítica (peças com revestimento mínimo e na área estética) ou com revestimento (material estético envolvendo também as áreas funcionais).

 

Aqui se encontra uma grande dificuldade no dia a dia do laboratório. Essas peças são desenhadas em computador e os técnicos precisam de muita orientação no momento da redução digital. Caso contrário, a rotina prevalecerá e a porcelana feldspática será aplicada como nos casos para porcelana fundida ao metal (as boas metalocerâmicas).

 

Assim, 85% das peças (aparafusadas também) representavam o desenho monolítico.


Sucesso, sobrevivência, ou ambos nas próteses totais sobre implantes feitas em zircônia?


Quando falamos em restaurações cerâmicas, o sucesso representa a ausência de fraturas. Já a sobrevivência traz consigo pequenas falhas.


Sobrevivência: 

  • monolíticas: 88% a 100%.

  • com revestimento: 66,7% a 100%. Alguns estudos relataram a sobrevivência cumulativa em 10 anos em 87%.


Sucesso:

  • monolíticas: 29,4% a 100%.

  • com revestimento: O sucesso geral variou de 20% a 88,5%.


E as taxas de complicações?


Aqui, definidas como menores (por exemplo, um lascamento) ou maiores (fraturas amplas).

  • monolíticas: de um total de 2670 peças, ocorreram 25 complicações maiores (1,0%) e 49 menores (1,8%). O lascamento afetou 27 de 2560 unidades (1,1%).

  • com revestimento: de um total de 368 peças, foram relatadas 30 complicações maiores (8,2%) e 78 menores (21,2%). O lascamento afetou 26,1% das próteses.


Quais peças desse quebra-cabeças ainda precisam de mais esclarecimento?


Toda vez que um artigo dessa natureza é publicado, mesmo em forma de meta-análise, sempre haverá dúvidas clínicas não reportadas e pelos mais diferentes motivos. E para os clínicos é um ponto complicado. Afinal, eu faria ou não esse tipo de prótese nos meus pacientes? O benefício compensaria os custos?

 

  • tipo de implantes, comprimento e diâmetro: fatores não analisados detalhadamente, mas reconhecidos como importantes.

  • presença ou ausência de pilar intermediário: não foi um foco direto do estudo.

  • localização dos implantes no arco: dados inconsistentes entre os estudos.

  • procedimentos de regeneração óssea: não foi um foco.

  • tipo de carga (imediata ou tardia): influência controversa devido à inconsistência dos dados.

  • número de implantes por prótese: variado entre os estudos.

  • presença ou ausência de cantiléver: influência controversa.

  • desenho da estrutura e processo de fabricação: a heterogeneidade dos métodos dificultou uma análise conclusiva.

  • tipo de arco antagonista: sugestão das complicações serem mais frequentes quando o arco oposto é do mesmo material; porém, outros achados são conflitantes (exemplo: antagonista de zircônia vs. dentição natural, tendo probabilidade similar de complicações).

  • uso ou não de placa oclusal: pode estar relacionado com as complicações, mas não houve uma palavra final sobre o assunto.



Mas existe alguma vacina de ação imediata contra as fraturas em zircônia monolítica?


Por enquanto, a melhor "vacina" (se é que podemos chamar assim) é uma restauração de teste, um protótipo em PMMA que pode ser ajustado confortavelmente na boca e usado como gabarito para a escolha do desenho e do material final da prótese total. O bom e velho conhecido do nosso dia a dia: o "provisório" aparafusado sobre os implantes dentários.


Outras recomendações fundamentais:

  • tenha no mínimo 12mm de espaço interoclusal disponível

  • teste a passividade de assentamento da prótese

  • controle os protocolos de sinterização

  • use materiais originais e compatíveis

  • tenha ao seu alcance o projeto original da restauração em caso de complicações

  • tenha também ao seu alcance primers e adesivos para reparos imediatos

  • verifique sempre a oclusão e o polimento


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Paulo Henrique Orlato Rossetti - a ciência da Odontologia no seu dia a dia
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