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Osteonecrose medicamentosa dos maxilares: bases genéticas?

  • Foto do escritor:  Paulo Rossetti
    Paulo Rossetti
  • 8 de set.
  • 4 min de leitura
Cromossomos e a osteonecrose medicamentosa dos maxilares: existe base genética?
Cromossomos e a osteonecrose medicamentosa dos maxilares: a base genética é significativa?

Você já ouviu falar da Osteonecrose Medicamentosa dos Maxilares (MRONJ, na sigla em inglês)?


É uma condição séria que pode acontecer com algumas pessoas que usam certos remédios, como os que fortalecem os ossos (chamados de antirreabsortivos), muito usados para osteoporose ou em tratamentos de câncer.


O problema é que nem todo mundo que usa esses remédios desenvolve essa doença.


E a pergunta que os cientistas fazem é: por que alguns sim e outros não? A resposta estaria em nossos genes?


Os genes e osteonecrose medicamentosa dos maxilares: um quebra-cabeças complexo


Uma grande revisão científica da literatura está investigando se a nossa "receita" genética pode nos tornar mais ou menos propensos a ter MRONJ. Essas pesquisas apontam para um cenário complexo, onde vários genes e suas pequenas variações podem influenciar o risco.


O que é um SNP?

Primeiro, imagine nosso DNA: a molécula da vida, que é um livro de instruções bem longo e define toda a sua aparência desde o nascimento, os alimentos que você pode comer, os líquidos que você pode beber, as suas aptidões para esportes. Enfim, é o seu computador pessoal. Nascemos com ele.


Agora, vamos ao SNP. Pronuncia-se "snip". É como uma única letra trocada nesse livro de instruções. Por exemplo, onde deveria ter um "A", aparece um "G". Essas pequenas trocas são comuns e fazem parte da nossa diversidade genética.

A questão é que, às vezes, uma dessas "letras trocadas" pode influenciar como uma instrução funciona, ou seja, como nosso corpo lida com algo.


Então, por exemplo, se é para o nosso corpo produzir uma proteína que combate um invasor, ele produz algo parecido, só que sem muita eficiência na prática.


Nesse caso, como esse tipo de medicamento antirreabsortivo.


Destaque: o gene ESR1 e o poder do estradiol

No meio de tantos genes estudados, o ESR1 (sigla para Estrogen Receptor 1) ganhou um destaque especial. Ele é como o "guia" para o nosso corpo produzir o receptor alfa de estrogênio.


Pense nesse receptor como uma "antena" ou uma "porta" nas nossas células que recebe a mensagem do estradiol, um dos principais tipos de estrogênio.


Qual o papel do estradiol no nosso corpo?

  • para os ossos: o estradiol é fundamental para manter nossos ossos fortes e saudáveis, tanto em homens quanto em mulheres. Ele ajuda a regular o processo de "reforma" óssea, onde o osso velho é removido e o novo é formado. Quando os níveis de estradiol caem (como na menopausa, por exemplo), os ossos podem ficar mais fracos e quebradiços.


  • além dos ossos: o estradiol também influencia outras partes importantes do corpo. Por exemplo, ele está ligado à saúde da gengiva e à resposta do nosso sistema de defesa (imunidade). Níveis mais baixos de estradiol podem estar associados a problemas como doenças nas gengivas, que podem aumentar a inflamação e infecções – fatores que também contribuem para o risco de MRONJ


Qual a conexão entre o ESR1 e a MRONJ?

O estudo mostra que pequenas variações (os SNPs) no gene ESR1 podem afetar como o estrogênio atua nos ossos. Se essa "conversa" for alterada, a regeneração dos tecidos e a saúde dos ossos na região da boca podem ficar comprometidas, aumentando o risco de MRONJ.


A própria diminuição natural do estrogênio com a idade também pode influenciar a suscetibilidade.


Outros genes envolvidos no risco de MRONJ

A pesquisa encontrou 136 variantes genéticas em 58 genes. Vários deles estão ligados a processos importantes do nosso corpo.


Os genes que apareceram com associações significativas (sem serem contraditos por outros estudos na revisão) incluem:


Genes ligados à saúde dos ossos e tecidos:

  • COL1A1: Fundamental para a estrutura do osso, pois produz uma proteína chave que forma o esqueleto

  • GRM4: Pode influenciar como as células que constroem o osso (osteoblastos) se formam e como o osso se mantém

  • FAM19A5: Pode ajudar na remodelação dos vasos sanguíneos e na reparação óssea

  • SIRT1: Atua na manutenção da saúde dos ossos

  • C6orf170: Relacionado ao desenvolvimento e à manutenção da saúde dos tecidos

  • TBCK: Envolvido no crescimento das células e na organização da estrutura celular

  • CSRNP3 e PHB2: Ajudam a controlar a inflamação e a manter o equilíbrio das células.


Genes ligados à resposta imune e inflamação:

  • C1S: Parte do sistema de defesa do corpo, influenciando como reagimos a infecções

  • TNF: Um gene com papel conhecido na inflamação e na resposta imune.

  • Região HLA: Um conjunto de genes que influenciam nossa resposta imune a infecções, incluindo as da boca


Genes ligados ao metabolismo e vasos sanguíneos:

  • VEGFC: Essencial para a formação de novos vasos sanguíneos. Vasos saudáveis são cruciais para a cicatrização do osso.

  • IMPAD1 e PPARGC1A: Relacionados ao funcionamento das células, ao uso de energia e ao metabolismo.


Outros genes identificados com associações potenciais:

  • ABP1, ARID2, ATRAID, CDC27, DFFA, FAM167A, FAM193A, HEBP1, HERC4, KCNT2, LTBP1, LUZP2, PLVAP, PZP, TNRC18: embora também tenham sido apontados em estudos sem contradições diretas, suas funções específicas no contexto da OMRM ainda estão sendo mais detalhadas e compreendidas pela ciência.


Da mesma forma, pequenas variações (SNPs) em muitos desses genes podem afetar como nosso corpo lida com o metabolismo ósseo, a inflamação, a formação de vasos sanguíneos e a resposta imune.


Se esses processos forem alterados, a regeneração dos tecidos e a saúde dos ossos na região da boca podem ficar comprometidas, aumentando o risco de MRONJ.


Testar antes de tratar? Ainda não!

Apesar de serem descobertas fascinantes, é muito importante entender que ainda não é a hora de sair fazendo testes genéticos rotineiramente para saber se você tem um "SNP de risco" em qualquer um desses genes antes de usar medicamentos antirreabsortivos.


Por que não?

  • a pesquisa ainda está no começo. Os estudos citados na revisão sistemática têm amostras pequenas; a maioria dos resultados ainda precisa ser confirmada por muitas outras pesquisas maiores e mais consistentes em diferentes populações.

  • nenhum gene sozinho consegue prever com certeza quem terá MRONJ. É algo bem mais complexo e envolve vários fatores (idade, higiene bucal, diabetes, tabagismo, outros medicamentos, etc.).


A ideia é que, um dia, talvez possamos usar essas informações genéticas para personalizar os tratamentos e entender melhor os riscos de cada paciente.


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Paulo Henrique Orlato Rossetti - a ciência da Odontologia no seu dia a dia
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