O som que ouvimos nas músicas que amamos são uma combinação harmônica entre o instrumento utilizado e o seu dono. Cada instrumento tem sua particularidade. Por exemplo, há diversos tipos de guitarras, com espessuras de cordas, sistemas de captação, e outras traquitanas usadas para distorcer o som.
Para que o som do seu CD, vinil, ou da sua playlist seja igualzinho ao do show ao vivo, é preciso que a banda reproduza exatamente todas as tecnicalidades colocadas nas gravações, além de usar os mesmos instrumentos originais.
Ainda, mesmo que você tente, não vai conseguir tocar exatamente todas as notas com o mesmo peso de gente famosa nesse meio a não ser que pratique muito e conheça todos os macetes embutidos nessas canções.
Na Odontologia, a experiência do operador conta. Repare nas suas primeiras restaurações e compare-as com o momento atual. São iguais? Seria diferente no mundo digital?
Você já ouviu o termo IOS (intraoral scan)? Ele representa os escâneres intraorais, esses dispositivos que são sistemas de captura de imagem, resultado de muitos desenvolvimentos em engenharia.
Embora convivamos com essas peças na Odontologia por um tempo até que razoável, só agora a maioria começa a receber atualizações periódicas. Resultado da inteligência artificial.
Na prática, do que essas ferramentas são capazes? Até que ponto o registro (escaneamento) feito pelos dispositivos atuais corresponde à realidade intrabucal?
Nem é preciso dizer como superamos as incompatibilidades de alginatos e gessos ao longo do anos, algumas percebidas de maneira intuitiva. Mas seria um escaneamento tão preciso ou até mais que um molde com o melhor silicone disponível no mercado? Os dentes são formas tridimensionais complicadas, nem sempre bem alinhadas, e os espaços interproximais praticamente zonas retentivas (mortas).
Em poucas palavras: a luz do seu escâner chega onde precisa?
E o desafio é vencer essas dificuldades.
Mas também é uma grande chance para entender como extrair o melhor do sistema que você já comprou ou pretende adquirir.
Grandes músicos extraem o melhor dos seus instrumentos, buscando sonoridades diferentes. Aqui, o nosso "instrumento musical" se chama wand, a haste que abriga a câmera de escaneamento intraoral. O wand de cada sistema tem peso e tamanho variado.
No estudo laboratorial mais recente, as dificuldades colocadas foram a distância de escaneamento (0, 2, 4mm) até à peça de teste, e o ângulo da cabeça dos dispositivos em relação à superfície escaneada (0, 15, 30, 45 graus).
Atenção se você possui alguns dos sistemas abaixo e nessas versões:
i700 (v.3.0.3)
TRIOS4 (v.1.7.31.1)
CS 3800 (v.8.0.5.10)
iTERO (v.2.7.9.601)
O objetivo número 1 era entender qual a capacidade de escaneamento de cada sistema medindo-se a área escaneada.
O objetivo número 2 era saber se, variando os parâmetros acima, a discrepância entre o modelo físico (uma superfície plana) e o seu escaneamento seria nula, maior ou menor. Essa discrepância estava representada pelas diferenças de altura entre as imagens dessas áreas, quando sobrepostas. Em boa ciência, chamamos isso de acurácia.
Traduzindo para a clínica: ao variarmos a distância e a angulação da peça de mão (wand), tecnicamente, a habilidade do operador em conduzir o procedimento seria simulada no dia a dia, e as imagens teriam maior ou menor área de representação.
Resultados:
todos os fatores testados afetaram a precisão do escaneamento.
iTERO e TRIOS4 conseguiram fornecer uma área de escaneamento maior do que os sistemas CS 3800 e i700.
CS 3800 gerou a menor área escaneada dentre os sistemas testados
quando os sistemas estavam na distância zero de escaneamento, a área escaneada gerada foi menor do que à 2mm e 4mm de distância
os grupos de 0 e 30 graus forneceram uma área de escaneamento menor do que os grupos de 15 e 45 graus.
com relação às discrepâncias (imagem original e imagem do escaneamento), todos os grupos são diferentes, exceto entre o CS 3800 e TRIOS4.
Olhando para cada sistema, os resultados ainda dizem que:
O desempenho do i700 foi melhor com distância zero em 15 graus de angulação para a área escaneada, e as menores discrepâncias obtidas para distância zero e 15 graus / distância 2mm e zero graus.
O desempenho do TRIOS4 foi melhor com a distância 2mm em 15 graus, e as menores discrepâncias para 0, 2mm, 4mm em 15 graus.
O desempenho do CS 3800 foi melhor para 0, 2mm, 4mm sob zero graus, e 2mm sob 15 graus; as menores discrepâncias para 0, 2mm, 4mm para zero graus e 2mm, 4mm para 15 graus.
O desempenho do iTERO foi melhor para 0, 2mm, 4mm e 15 graus; as menores discrepâncias para 0, 2mm, 4mm (tanto em zero quanto em 15 graus de angulação).
A mensagem: precisamos aprender a tocar esses nossos "wands". Alguns talvez sejam mais fáceis, e outros um pouquinho mais desafiadores.
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