William "BraneBill" Becker faleceu. Conhecido e reconhecido mundialmente pelos seus serviços prestados à Periodontia, Bill era um profissional exemplar e irreverente. A constatação do seu humor refinado era unânime.
Tive a chance de conhecer (e entrevistar pessoalmente) Bill Becker em Nova Iorque. Eu estava fazendo a cobertura jornalística de um dos congressos da Nobel Biocare para a revista ImplantNews. Foi no mês e ano em que o ator James Gandolfini (do seriado Família Soprano) tinha morrido. No palco, ao finalizar sua palestra, Bill lembrou-se de que no bolso havia uma lista de compras e começou a descrevê-la....esse era o Bill.
No dia seguinte, no saguão do Hotel Waldorf-Astoria, durante essa longa entrevista, ele reafirmava sua irreverência de raciocínio, muitas vezes pausada por frases como: "...filho, você é muito jovem...não deveria ficar escutando esses palavrões que eu falo...kkk".
Dessa entrevista surgiu o convite para ser um dos revisores do Clinical Implant Dentistry and Related Research. Aceitei essa missão com muito prazer.
Bill praticamente me deu uma aula gratuita (no melhor estilo MasterClass) sobre a regeneração óssea guiada naquele dia, seu convívio com Marshall Urist (BMP), e outros assuntos já publicados na revista ImplantNews.
Em 2015 (nos 50 Anos de Osseointegração, organizado pela VMCom), Bill pode nos visitar. Continuava irreverente, brincalhão, cheio de histórias. Chegou a relatar que nunca havia sido tão bem tratado pela organização do IN, viajado de classe executiva, etc. Bill realmente era um coração honesto.
Numa de suas aulas, ao perceber que a tradução da palavra "bone" para a língua portuguesa (osso) tinha uma sonoridade diferente, fez a "dança da chuva" como nas tradições indígenas. O anfiteatro Elis Regina estava lotado. A plateia caiu nas gargalhadas.
Nos corredores do IN, tiramos essa foto que está no post. Ao se despedir do Peter, Bill deu-lhe um beijo no rosto, desses atos raros entre colegas de profissão que se gostam como família, dessas cenas que a gente só vê nos filmes. Tocante.
Dessa data em diante, passei a considerá-lo como meu avô. Ficamos mais amigos, nos falávamos por e-mail constantemente. Bill sempre com suas observações precisas. Tinha um pouco de tudo: do preço do cachorro-quente no aeroporto, das eleições nos USA, até às novas terapias periodontais e os fantasmas da peri-implantite.
Bill já havia publicado centenas de assuntos, dos quais muitos foram seguramente adotados em milhares de consultórios. Mas ainda sim, nas correspondências eletrônicas, ele era apenas o Bill, marido da Joyce, que vivia em Tucson, Arizona, e que gostava de falar dos seus hobbies, dos filmes, e dos livros.
Sendo morador de Tucson, Arizona, Bill sempre relatou sua fascinação e respeito pela cultura local indígena. Neste sentido, brincávamos que a Implantodontia precisava de uma revista só relatando as situações / casos que não davam tão certo. A editora (fictícia) seria a "The Clever Arrow Company".
Da mesma forma, seguiam-se listas do tipo "nunca faça no seu consultório" ou "minha pequena caixa de reparos para...". Mesmo com a pandemia, Bill andava entusiasmado com esse lance de videoaula pelo Zoom.
Um belo dias desses, bem depois da pandemia de COVID-19, o Bill me disse que iria se aposentar. Ele estava saindo da revista que editara desde o começo. Hom Lay Wang (que está no canto esquerdo da foto deste post), seria um dos próximos editores. Coincidências do destino.
A pescaria em Montana, aos finais de semana, seria o novo passatempo de Bill.
Que você descanse em paz, meu amigo. Suas contribuições formaram gerações. Missão cumprida.
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