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A Ortodontia é um mecanismo de "inflamação controlada"?

  • Foto do escritor:  Paulo Rossetti
    Paulo Rossetti
  • 5 de jan.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de ago.

Ortodontia: "inflamação controlada"?
Ortodontia: "inflamação controlada"? Foto. I.A.


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Ortodontia e inflamacao controladaPaulo Rossetti


Todos os dias, milhares de gengivas sangram um pouquinho. Todos os dias, milhares de escovas trabalham para desorganizar a placa dento bacteriana. E tudo se resume à uma palavra: reduzir o estado inflamatório, possivelmente dentro dos 25-30% de frequência de placa, algo que deve ser obtido com a cooperação dos pacientes.


Entretanto, quando traduzimos a palavra "estado" por "condição", isso significa que ela é passageira, principalmente na condição aguda, quando os mecanismos corretos (internos e externos) são aplicados.


Além disso, a forma como nosso organismo se defende e resolve esse desequilíbrio se reflete em sinais clássicos: calor, dor, rubor, inchaço; comuns e variáveis em intensidade, dependendo da gravidade da lesão, dano, cirurgia.


É fácil esquecermos que dentes, assim como os rins, fígado, bexiga, a pele, são órgãos. A diferença é que ficam "metade para fora" e "metade para dentro". Nessa interface, temos o sulco gengival repleto de soldadinhos de defesa do sistema imune, prontos para entrar em ação.


Ainda, aprendemos que o perfil das células de defesa pode mudar: por exemplo, os macrófagos podem ser células pró inflamatórios (M1) quando o ambiente exige, mas em algum momento dão lugar ao perfil anti-inflamatório (M2). Nesse aspecto, alguns biomateriais são capazes de entrar na fase anti-inflamatória diretamente, reduzindo seus efeitos no organismo.


No rebordo alveolar, a contaminação bacteriana pode gerar perda óssea. Se você trabalha com regeneração óssea, sabe que uma membrana não absorvível, quando exposta por deiscência de sutura ou fenestração no tecido mole, é uma grande dor de cabeça.


Da mesma forma, bolsas periodontais profundas e não tratadas possuem uma quantidade variada de microrganismos que terminam na ativação de citocinas e perda da crista óssea, causando problemas estéticos (muitos sem solução) nos tecidos moles sobrejacentes.


Agora, vamos olhar nossos pacientes com fios, bandas e bráquetes ortodônticos: espessamento gengival, aumento do volume das papilas, retenção progressiva de placa, e as forças que induzem perda e aposição óssea em plena atividade: seria a Ortodontia um mecanismo de "inflamação controlada"?


Inflamação ou "remodelamento ósseo induzido pela força" na Ortodontia?


Se nós evoluirmos o termo "inflamação controlada" para "remodelamento ósseo induzido pela força" fará mais sentido? Toda remodelação implica em reabsorção e deposição, mas em algum momento ela apresentará um estado inflamatório.


Remodelar é mudar a forma. Você muda os volumes de posição. Basicamente, é o que a Ortodontia faz, dentro de toda a complexidade mecânica prevista.


Contrário ao que se pensa, os componentes de uma célula animal não se reduzem apenas à membrana, citoplasma e núcleo. Existem centenas de elementos que funcionam como engrenagens para que os estímulos externos cheguem ao núcleo e respostas efetivas (como a citocinas e quimiocinas da inflamação) sejam produzidas.


No dia a dia, e imperceptível aos nossos olhos: mesmo que as forças ortodônticas sejam de poucas gramas, o menor movimento de tração / compressão no ligamento periodontal faz com que as células dos tecidos moles e duros liberem esses componentes sinalizadores.


No trabalho mais recente publicado , as características inflamatórias da doença periodontal e da movimentação ortodôntica dentária são comparadas.


Abaixo, alguns aspectos interessantes que comprovam os motivos do sucesso das forças ortodônticas:

  • o epitélio juncional é rompido, mas se readapta em pouco tempo (10 dias em ratos)

  • os queratinócitos (a gengiva) sofrem apenas hipertrofia

  • células-tronco do ligamento periodontal atingem seu pico ao redor do terceiro dia, em ambos os lados (tração e compressão)

  • no mesmo sentido, os fibroblastos do ligamento periodontal a partir do quarto dia

  • os perfis pró inflamatório e anti-inflamatório, em cada um dos lados correspondentes, são mais ativos nos primeiros 15 dias


Finalmente, outro aviso importante oriundo desta revisão: a falta de higiene (inflamação crônica) em pacientes ortodônticos pode "pegar uma carona" nos mecanismos acima descritos, deixando o processo de reabsorção proeminente e suprimindo os mecanismos da nova formação óssea.


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