A resina para impressão 3D em Odontologia pode ser tóxica?
- Paulo Rossetti
- 11 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de ago.

A impressão 3D emergiu como uma das tecnologias disruptivas mais recentes na Odontologia, influenciando a maneira como próteses, guias cirúrgicos, modelos e alinhadores são concebidos e fabricados.
A capacidade de criar estruturas complexas e personalizadas com alta precisão e eficiência pode gerar uma adoção cada vez maior dessa tecnologia em clínicas e laboratórios dentários.
No entanto, o sucesso a longo prazo e a aceitação generalizada da manufatura aditiva dependem da biocompatibilidade e segurança dos materiais utilizados, principalmente das resinas fotopolimerizáveis.
O Uretanodimetacrilato (UDMA) é um componente essencial nesse processo. Entretanto, como todo material químico, levanta questões sobre seu potencial impacto biológico:
- como o UDMA se comporta no ambiente complexo da boca? 
- quanto dele é liberado? 
- quais são os efeitos reais — tóxicos ou sutis — dessas substâncias no corpo humano? 
Assim, pesquisadores da Alemanha ofereceram uma análise aprofundada e inovadora, abordando não só a complexa questão da liberação de substâncias, mas também redefinindo nossa compreensão sobre as diferenças entre concentrações tóxicas e subtóxicas.
Entenda: o que são concentrações tóxicas e subtóxicas?
Concentração Tóxica:
Nível de exposição que causa um dano biológico evidente, mensurável e prejudicial. No contexto celular, isso pode se manifestar como uma redução acentuada da viabilidade celular, disfunção metabólica severa ou morte celular (necrose/apoptose).
Concentração Subtóxica:
Níveis de exposição que estão abaixo do limiar de toxicidade aguda e não causam dano celular ou morte evidentes. No entanto, concentrações subtóxicas ainda podem induzir alterações biológicas mais sutis, estresse celular, alterações na expressão gênica ou no comportamento celular que, a longo prazo ou com exposição repetida, geram consequências.
O que é o novo modelo dinâmico usado no estudo mais recente?
É uma reinterpretação fundamental de como a exposição deve ser avaliada. Ele considera três aspectos cruciais do ambiente oral:
- a taxa de liberação do material não é constante, mas sim decrescente com o tempo 
- a saliva atuando como um "agente de limpeza" contínuo. As substâncias liberadas são continuamente lavadas e aspiradas, o que impede seu acúmulo e mantém as concentrações muito mais baixas do que em um ambiente estático. 
- a gengiva e outros tecidos moles na cavidade oral são altamente perfundidos por sangue e soro. 
Esses princípios foram integrados em um modelo onde uma prótese total atua como a fonte de UDMA, e a saliva e a gengiva são os compartimentos receptores.
Para validar e enriquecer o modelo, os pesquisadores utilizaram um sistema in vitro de queratinócitos gengivais humanos, as células primárias da mucosa oral.
Afinal, o que aconteceu com o UDMA da prótese total feita em resina para impressão 3D?
- o modelo mostrou que depois de 20 horas, as concentrações de UDMA caíram para níveis muito baixos, e após quase 4 dias, estavam abaixo de 0,01 µg/mL. 
- houve enorme discrepância entre as concentrações tóxicas determinadas in vitro e as concentrações previstas in vivo pelo modelo dinâmico. As concentrações in vivo) foram 500 vezes menores do que as concentrações que causaram toxicidade in vitro. Isso sugere que, para a citotoxicidade geral (ou seja, morte celular ou dano metabólico grave), a exposição ao UDMA de dispositivos impressos em 3D sob condições orais dinâmicas é muito baixa para causar efeitos tóxicos diretos. 
- mesmo em níveis "subtóxicos" (que não matam os queratinócitos), o UDMA pode influenciar seu comportamento biológico. 
- mesmo que o UDMA não cause citotoxicidade direta em níveis de exposição real (ou seja, permaneceu sub tóxico neste trabalho), ele pode induzir efeitos de sensibilização devido à sua natureza como alérgeno. 
A mensagem crucial para dentistas e laboratórios
- a lavagem adequada e a pós cura completa dos dispositivos impressos em 3D são etapas essenciais. 
- uma polimerização deficiente ou uma lavagem insuficiente deixarão mais monômeros residuais disponíveis para eluição, aumentando os riscos potenciais. 
- a ausência de "pegajosidade" e um odor mínimo são indicadores de um bom processo de pós cura. 
- os dispositivos impressos em 3D podem ser muito seguros sob condições de uso real, mas também nos alerta para os riscos específicos, como a sensibilização, que devem ser gerenciados proativamente. 
A validação com estudos clínicos é o próximo passo essencial para confirmar as previsões desse modelo.