Clínica ou docência: o que se espera de uma pós-graduação?
- Paulo Rossetti
- 14 de jan.
- 4 min de leitura
Atualizado: 20 de ago.

O estrito senso (stricto sensu) representa os cursos de pós-graduação que se referem ao Mestrado ou Doutorado. Quem sabe, um pós-doutoramento?
Já o lato senso (latu sensu) representa a Especialização. No Brasil, as especialidades que mais possuem profissionais são a Ortodontia, Implantodontia e a Endodontia.
Bem, estamos no começo do ano e muita gente tem vontade, mas também tem dúvida se vai para a "clínica ou docência": qual será o seu tipo de pós-graduação? A sua expectativa casa com a sua realidade? Vale o investimento?
Especialização (lato senso): para que serve?
Formando profissionais clínicos melhores
Cursos de especialização estão formatados para formar profissionais clínicos melhores na sua área de interesse.
Por exemplo, dentre as disciplinas da Odontologia, se a sua paixão é a Endodontia, certamente você passará 24 meses (média de tempo recomendada) estudando apenas aspectos como a instrumentação dos canais radiculares, a detecção de lesões endodônticas, a tecnologia de imagem associada, e tudo o que se refere a esse vasto mundo que tem como missão a preservação e aumento da longevidade dentária.
Assim, um curso de Especialização deveria gerar um profissional clínico mais consciente de sua prática e, quem sabe, uma referência na sua região.
Normalmente, um especialista resolve problemas bem específicos, daqueles que os clínicos gerais não conseguem detectar, por exemplo, uma lesão endo periodontal com dor referida de difícil localização, patologias do nervo trigêmeo, farmacologia para disfunções temporomandibulares, etc.
Então, quando o foco está na clínica, o curso de especialização é a melhor opção. Claro, não que você não possa, algum dia, compartilhar da sua experiência no curso de pós-graduação.
Mestrado, Doutorado (estrito senso): para que servem?
Formando os professores do futuro: clínica ou docência?
Vocação é algo que se cultiva desde muito cedo, especialmente na docência. Melhor, vocação é algo com o qual se nasce.
Professores são pessoas com vocação. Por isso, nossos professores no Mestrado e Doutorado são bem rigorosos.
Eles sabem que em algum momento vão "passar o bastão". A responsabilidade de ensinar é gigantesca: afinal, é a qualidade de vida de outro ser humano que pode ser melhorada significativamente.
Você não sabe se tem o "espírito" de ensinar?
O teste abaixo é apenas sugestivo:
gosta de dar aulas, independente do números de alunos que estejam presentes (fisicamente e/ou online)
gosta de ler artigos científicos (pelo menos, 2 ou 3 por semana) clássicos e atuais
sabe o nome da maioria das revistas científicas que precisa acessar todos os meses para se manter atualizado(a)
mantem uma base de artigos em formato PDF no seu computador ou na sua casa (em papel) e consegue encontrá-los facilmente
atualiza constantemente seus slides dentro dos seus tópicos de aulas
preocupa-se mais com a didática do que com a "transmissão maciça de informações em tempo recorde"
cultiva a paciência; está sempre interessado em ajudar seus alunos, por mais difícil que seja a distância entre "seu conhecimento" e o "conhecimento que os alunos e alunas têm"
compartilha artigos e/ou informações que podem ser úteis na clínica
avalia o conhecimento residual de cada aluno(a) colocando-os no modo de participação ativa
Mestres e Doutores são "experts" em aulas e seminários. Ainda, a maioria pertence ou é membro ativo do corpo editorial de revista científica, fazendo pareceres técnicos em artigos ou funcionando como editor(a).
Mestres e Doutores também possuem formação clínica.
Um(a) especialista deveria ler tanto quanto um Mestre ou Doutor?
Essa é uma dúvida importante.
Por ofício, Mestres e Doutores, sabendo da necessidade de uma boa aula, devem ler constantemente assuntos variados ou associados aos seus temas).
Então, não é que um Especialista não precise ler. Em função da natureza, há uma tendência dos cursos privilegiarem mais o tecnicismo, embora a carga horária também tenha as aulas básicas com as referências mais importantes.
A resposta mais lógica é: crie o hábito. Vivemos uma época onde a quantidade de conhecimento tem proporções intergalácticas!
Para isso, sem a leitura fundamental, o seu trabalho será "mais um" na estante, e você terá a sensação, ao terminar seu curso, que "não saiu do lugar".
Outro ponto fundamental: os trabalhos de conclusão de curso.
Sim, esteja você pensando em especialização ou mestrado/doutorado, é obrigatório desenvolver um tema de seu interesse.
A diferença é simples: na Especialização, o seu TCC ou monografia (o trabalho de conclusão de curso) geralmente será escrito como revisão de literatura. No Mestrado e Doutorado, é uma tese, uma pesquisa de laboratório ou com seres humanos.
Então, aqui temos outro ponto importante: procure o estrito senso (Mestrado/Doutorado) se você quer desenvolver uma pesquisa. Mas, se você acha que o seu negócio é a clínica, o TCC (com o tema do seu interesse) será a melhor solução.
E os custos?
Normalmente, na Odontologia, os programas de lato senso não oferecem bolsas de estudo, já que os alunos e alunas desses cursos teoricamente teriam os mesmos para se sustentarem à distância.
Nos programas de estrito senso, e em função das linhas de pesquisa, é necessário ter apoio de instituições de fomento (CAPES, FAPESP) para que os alunos desenvolvam suas teses.
Refazendo a pergunta: o que a pós-graduação espera de você?
Os programas de pós-graduação têm um único objetivo: o desenvolvimento da sociedade através de todas as áreas da ciência.
A sociedade começa por cada um de nós.
Nos programas de estrito senso, é fundamental que o professor e a professora consigam desenvolver seu senso crítico. Isso leva tempo, esforço, e uma dedicação que não se paga com qualquer valor.
Nos programas de lato senso, é fundamental que os futuros especialistas sejam referências na sua região, dando apoio na solução de problemas clínicos complicados. Isso também leva tempo, esforço, e uma dedicação que não se paga com qualquer valor.
Lembre-se: conhecimento nunca é demais. Então, aproveite bem tudo o que seus professores falarem, todos os artigos que você ler, e todos os pacientes que você atender.
A chave do seu sucesso (e do seu futuro), como especialista, mestre ou doutor, está aqui.
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