Dentes trincados: quando e o que fazer na clínica para aumentar sua longevidade?
- Paulo Rossetti 
- 17 de jan.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de set.

Dentes trincados são comuns nas regiões posteriores da maxila e mandíbula, com uma chance muito grande de serem vistos em elementos com tratamento de canal e restaurações amplas e antigas (amálgama, por exemplo).
Dentes com grandes desgastes nas cúspides e/ou perda da anatomia nas superfícies oclusais, ou dentes com "ilhas" de restaurações antigas também são grandes candidatos às trincas. Sem falar no bruxismo e nas outras parafunções. Todos fatores de risco.
Muitas vezes, dentes trincados estão assintomáticos, respondendo de forma diferente aos testes de provocação (frio, calor)
Ao mesmo tempo, os pacientes ficam muito preocupados quando nós, profissionais da Odontologia, detectamos que esses dentes apresentam trincas e o que vamos fazer deste ponto em diante.
O "sonho comum", tanto do dentista quanto do paciente, é que esses dentes tenham salvação. Uma trinca não é uma fratura, não é? Especialmente quando a polpa dentária respondem bem, ou seja, ainda tem vitalidade.
Mas esse processo de decisão não é simples: acompanhar o dente se ele não apresenta sintomatologia? Fazer restaurações de cobertura parcial ou cobertura total (coroas)?
Que tal darmos uma olhada num artigo com uma meta-análise bem consistente?
Quais são os dados desse estudo que precisamos considerar?
Dentes trincados, mas com vitalidade pulpar
- a taxa de sobrevivência dentária, nesses casos, vai de 92% à 97% (acompanhamento de 1 - 6 anos) 
- a taxa de sobrevivência pulpar, nesses casos, vai de 85% à 90% (acompanhamento de 1 - 3 anos) 
Aqui, a taxa geral de sucesso dentário, em dentes com vitalidade pulpar, fica entre 80% e 89% (entre 1 e 3 anos de acompanhamento)
Dentes trincados, mas com tratamento do canal radicular
- a taxa de sobrevivência dentária, nesses casos, vai de 90% à 91% (acompanhamento de 1 - 2 anos) 
Aqui, a taxa geral de sucesso dentário, em dentes com vitalidade pulpar, fica entre 83% e 91% (entre 1 e 4 anos de acompanhamento)
Em dentes vitais, fazer as restaurações sem cobertura de cúspide ou partir para as coroas totais?
- O risco de complicações pulpares, quando fazemos apenas a cobertura das cúspides, é 3 vezes maior do que na opção coroas totais 
- O risco de extração dentária, quando fazemos apenas a cobertura das cúspides, é 8 vezes maior do que na opção coroas totais 
Em dentes com tratamento de canal, fazer as restaurações sem cobertura de cúspide ou partir para as coroas totais?
- O risco de extração dentária, quando fazemos apenas a cobertura das cúspides, é 11 vezes maior do que na opção coroas totais 
Quais condutas clínicas poderemos adotar pelo estudo publicado?
- dentes sem sintomas: monitoramento apenas, sem restaurações 
- dentes com sintomas e/ou tratamento de canal: coroas totais 
Mas qual é o motivo de tanta insistência na preservação dentária?
Os dentes, é claro, são únicos.
Não existe nada melhor do que manter os dentes em posição, quando ainda for possível. É o que toda a literatura disponível mostra.
Outro motivo, e talvez o mais crucial: a manutenção da espessura da tábua óssea vestibular, especialmente nas regiões estéticas.
Quando o tratamento dentário é considerado irracional? Além das trincas.
Segundo um dos grupos mais especializados em taxas de sucesso e sobrevivência para dentes e implantes (Pjetursson et al., 2018), o tratamento dentário com finalidade de manutenção seria desconsiderado nas situações abaixo:
- lesões cariosas extensas caminhando para o canal radicular 
- lesões cariosas extensas atingindo a região da furca 
- perda de inserção periodontal chegando ao terço apical radicular 
- abscessos periapicais recorrentes 
- lesões endo periodontais extensas 
- fraturas verticais 
- fraturas horizontais no terço médio radicular 
- retratamento endodôntico ou cirúrgico recorrente e sem sucessos 


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